quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A dádiva do imprevisto

Faz quase 3 semanas que estou fora de casa. Uma longa viagem, para um país distante - outro clima, outra geografia, outra língua, que embora eu tenha estudado um pouco, a cada dia se mostra mais desconhecida, com gírias, expressões populares, entonações peculiares.
Não me considero uma pessoa viajada, mas creio que já fiz mais de uma dezena de viagens, algumas curtas, outras mais longas. Depois de um tempo, a gente começa a perceber o tipo de viajante que é. Sim, para mim o termo é este: viajante, não turista. Explico-me: para mim, não interessa só o que sai no guia turístico (com todo respeito a estas publicações tão úteis), ou os lugares mais pitorescos, bonitinhos ou arrumadinhos. Quando eu viajo, gosto de conhecer as cidades que visito, andando a pé, de ônibus, de trem, nunca em um táxi que me leve de um ponto turístico a outro. Gosto de escolher meus trajetos e às vezes me perder neles para descobrir uma rua muito legal, com aquele barzinho despretensioso, onde talvez você vai comer o melhor P. F. da sua vida. T'aí: achei uma expressão para me definir: sou uma viajante P. F. : gosto do prato feito, completo, que é cada cidade, com suas muitas cores e sabores diversos. Não sou do tipo alta gastronomia. E gosto de gente, de falar com quem vive ali, com quem vivencia a cidade sem as lentes às vezes glamourosas, e sempre comerciais, do turismo.
Outra peculiaridade de parte desta viagem é opção de viajar sozinha. Descobre-se muito sobre si mesmo nestas ocasiões. Não é minha primeira vez nesta experiência, sei que ela produz efeitos e deixa marcas interessantes. Descobrimos que somos capazes de chegar sozinhos a um país estrangeiro, de dividir quartos com pessoas que nunca vimos, de cozinhar com temperos e alimentos desconhecidos, de pedir o sacarolhas emprestado ao vizinho de mesa sem saber falar a língua dele. Passeamos, conversamos intimamente com pessoas que encontramos pelo caminho e que talvez nunca mais veremos, e ficamos tão gratos por compartilhar com alguém a vista daquela montanha, daquela praia, daquele monumento...
Esta é a verdadeira viagem. É sair do que a gente conhece, deixar a zona de conforto, e abrir espaço para o imprevisto. Só assim a gente descobre que não apenas o mundo é grande: nós também somos!