quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Zombando das grades

Ah, a poesia nunca me pede licença, posso entrar? Não, entra sem bater na porta, quando entra pela porta e não pula portões, janelas, daquele jeito que minha finada vó Júlia dizia que não devíamos fazer, meninas educadas que éramos ou que queríamos ser, mas não resistíamos às saias dos nossos vestidos esvoaçando sobre as grades, nossos pés descalços pisando sobre as grades, nossos sorrisos zombando das grades.
A poesia passa pelo vão das grades. É o sol que vejo ainda quando fecho a cortina, um vento que me faz parar para pensar na direção do ar que flui de tantos pulmões, emoção em estado bruto. É a dança que existe no bailarino estático, que usa cada ínfimo músculo para segurar o tempo ou que recolhe toda a energia para a explosão, o salto extático.
Não se pode conter o salto, não se pode conter o verso. Mas não entro surdamente no reino das palavras, elas que entram ruidosamente no meu quarto alaranjado pela luz da tarde.