quarta-feira, 24 de novembro de 2010

"E ninguém te lê"

Eu estava me lembrando agora de uma trovinha jocosa, não me lembro do autor (me ajudem os leitores, se houver leitores):

Ah, Mallarmé, Mallarmé
A carne é triste
E ninguém te lê.

As não palavras


Eu nada te disse
da solidão
não houve tempo
de explicar
que me sentia só
ao teu lado
da mesma forma
que no frio alvo
na imensidão
silenciosa das
Montanhas Rochosas.
Não houve tempo
nem ocasião
antes que tua
ausência fizesse
dessa solidão
algo líquido
bebida de goles amargos
lágrimas de saudade salgada.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Arco-íris

Houve um momento em que a tarde parou.

Não se sabia se o balé dos astros
forjavam destinos inesperados
ou se luas e planetas e estrelas
pairavam sem serviço
no descanso dos ponteiros
do inexorável Tempo.

No momento imóvel
nuvens cinzas se aglomeravam
grávidas de gotas de chuva
e um sol de saída ainda presente
derramava sua luz hesitante
sobre as árvores caladas.

Não se sabia
se as nuvens se ensolaravam
ou se o sol se chovia
e por via
de tão agudas dúvidas
a viúva
não se casaria
mesmo que cantassem as crianças:
"Sol e chuva
casamento de viúva".

As pesadas nuvens
soltaram os primeiros pingos
o sol competitivo
esticou alguns dos seus raios
e assim findou-se
o recreio do Tempo:
vento soprou sobre a terra
moveu as nuvens
que se derramaram
à luz do sol poente

e o céu se pintou de sete cores.

Eram os deuses novamente
insistindo na aliança:
não havemos de destruir os homens
em imobilidade eterna.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Novembro

O mês de novembro chegou com suas tardes longas, quentes e ruidosas - as cigarras cantam chamando o verão, colorindo os flamboyants que daqui a pouco vão florir por nossa cidade, com suas flores vermelhas - pedaços de fogo sobre o azul do céu.
Novembro me dá ganas de abandonar as obrigações, de andar descalça, tomar sorvete, de ceder ao cansaço acumulado pelo ano que já começa a se despedir.
Novembro me deixa reflexiva - do susto com a passagem rápida do tempo ("E lá se vai mais um ano!"), do inexorável tempo do dia de Finados, começo a pensar na renovação, num novo ano que se aproxima cheio de promessas. E já começo minha contagem regressiva para o Natal e suas guloseimas, para o Ano Novo e suas bolhas de champagne e abraços de paz e prosperidade.